sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Árvores agradáveis para comer

Há em Gênesis 2 uma sequência de informações muito interessantes. Vejamos os versos 8 e 9:” E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Nesta primeira sequência Deus coloca o homem num jardim. Depois Ele fez brotar toda árvore agradável e boa para comida. Agora vejamos as informações contidas nos versos 15 a 17: “ E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.  E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente,  mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Aqui vemos que havia uma árvore da qual não se poderia tomar e comer livremente, aliás, havia uma sentença. Por que será que esta árvore era maligna?

Há algo curioso aqui; na verdade Gênesis fala de duas árvores: uma da vida e a outra da ciência do bem e do mal. Ambas são excludentes, ou seja, o comer de uma delas excluiria o participar do fruto da outra. E, de fato, ocorreu exclusão ao acesso à árvore da vida quando Adão preferiu a árvore da ciência do bem e do mal.

Talvez fosse melhor entender o que significa árvore na teologia judaica, uma vez que as palavras na Bíblia estão, em muitos casos, carregadas de significados e, o fato simples de comer significou um imenso problema moral que resultou na expulsão do jardim e proibição do acesso à árvore da vida.

Em muitas ocasiões árvores significam, no código bíblico, pessoas. Por exemplo, em Salmo 1, o homem moralmente perfeito é considerado uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, cujos frutos são produzidos na estação correta. No livro de Daniel, no capítulo 4, dos versos 10 em diante, o Rei Nabucodonozor é comparado a uma árvore frondosa. No evangelho de João no capítulo 15 Jesus diz:” Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Esta última passagem esclarece que na condição de varas devemos permanecer na videira. Curiosamente, quando Deus procurou Adão após ter comido do fruto proibido, ele estava escondido dentro da árvore, conforme o original hebraico de gênesis 3. Assim, permanecer em Cristo significa estar na árvore da vida.

As árvores que eram excludentes estavam no meio do jardim. Esta circunstância implica em situação de evidência e grande importância. Nas solenidades formais da sociedade humana, quando alguém tem proeminência é-lhe indicada a aposição central. Na verdade, as importantes árvores parecem conter informações antagônicas que não se pode misturar.  Parece-nos evidente que se trata de dois sistemas ou portais de informações que não podem ser ajustados.

A escritora Ellen White fala da árvore da ciência do bem e do mal da seguinte maneira:
“Alguns insistiam fortemente quanto ao estudo de autores incrédulos, e recomendavam os próprios livros condenados pelo Senhor e que, portanto, não devem de maneira alguma ser sancionados [...] Se nunca houvésseis lido uma palavra nesses livros, estaríeis hoje incomparavelmente mais capazes de compreender aquele Livro que, acima de todos os outros, é digno de ser estudado, e que dá as únicas ideias corretas acerca da educação superior. O fato de haver sido costume introduzir esses autores entre vossos livros, e que esse costume haja ultrapassado pelos anos, não é nenhum argumento em seu favor. O longo uso não recomenda necessariamente tais livros como livres de perigo ou essenciais. Esses livros têm levado milhares aonde Satanás levou Adão e Eva - à árvore da ciência de que Deus lhes proibira comer. Eles têm induzido alunos a abandonar o estudo das Escrituras por uma espécie de estudo que não é essencial. Caso os alunos assim educados devam ser aptos para trabalhar em prol de almas, terão de desaprender muito do que aprenderam. Verificarão que isto será um processo difícil; pois as ideias objetáveis se haverão arraigado em seu espírito como as ervas ruins em um jardim, de modo que alguns jamais serão capazes de discernir entre o direito e o torto. O bem e o mal se haverão mesclado em sua educação. Foram exaltados os homens para que os contemplassem, suas teorias glorificadas; de modo que, ao buscarem ensinar a outros, a pequena verdade que podem repetir se acha entremeada de opiniões, ditos e feitos humanos. As palavras de homens que demonstram não possuir conhecimento prático de Cristo, não devem ocorrer em nossas escolas. Servirão de obstáculo à verdadeira educação”. Conselhos Sobre Educação p.149.

Noutra ocasião Ellen White escreveu o seguinte: “Lidando com a ciência da cura da mente, tendes estado a comer da árvore da ciência do bem e do mal, na qual Deus vos proibiu tocar. É mais que tempo de começardes a olhar a Jesus, e, pela contemplação de Seu caráter, transformar-vos à semelhança divina. Mensagens Escolhidas - Volume 2 p.350.

É importante notar que ao comer o fruto da árvore proibida, Adão teve o acesso à árvore da vida negado e, consequentemente, se percebe que ambas as árvores não são apenas seres vivos do Reino Vegetal. Simbolizam muito mais que esta ideia simplória, são elas como que bancos de informações que dão acesso a desempenhos distintos e antagônicos.

Sobre a árvore da vida a própria Bíblia a define da seguinte maneira: “A sabedoria é árvore da vida para os que a seguram, e bem-aventurados são todos os que a retêm". Prov. 3:18. 
Ellen White se refere à árvore da vida dizendo: “Não olheis a vós mesmos, mas a Cristo. Aquele que curara os enfermos e expulsara demônios quando andava entre os homens, é ainda o mesmo poderoso Redentor. Agarrai, pois, Suas promessas como folhas da árvore da vida.” A Ciência do Bom Viver p.66. Em outros livros ela diz: “A Palavra de Deus é como as folhas da árvore da vida. Nela se satisfaz toda necessidade dos que lhe amam os ensinos e os introduzem na vida prática”. Conselhos Professores, Pais e Estudantes p.353. “ Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo, limitavam-se às próprias necessidades deste na vida prática. À curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras perguntas, não satisfazia. Todas essas perguntas tornava Ele em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida”. Conselhos Professores, Pais e Estudantes p.386. “As lições tiradas das parábolas de nosso Salvador serão para muitos como folhas da árvore da vida”. Conselhos Sobre Educação p.215. Chamamos atenção às palavras encontradas no parágrafo que segue, as quais são ainda mais esclarecedoras: “Se viveis em obediência a Cristo e Sua Palavra, estais comendo as folhas da árvore da vida, que são para a cura dos povos”. General Conference Bulletin, 3 de abril de 1901.

Na verdade, o significado bíblico para árvore da vida é o próprio Senhor Jesus Cristo. Ora, se é isto, então a árvore da ciência do bem e do mal é o anticristo. Portanto, para Adão, comer do fruto proibido significou entrar em contato com os oráculos do erro tornando-se parecido moralmente com o autor do erro. Neste contexto, não poderia ter acesso à árvore da vida.

Desde que aconteceu a queda de Lúcifer no céu, e a capitulação de Adão no jardim, a Terra ficou submetida a dois sistemas de comportamento moral, a duas teorias sociais excludentes, mas que pretendem o mesmo fim, ou seja, o bem estar da pessoa.

A primeira diz que o bem estar deve ser alcançado através do sistema de ajuda mútua. O bem estar seria conseguido por causa do efeito circular. A cooperação seguiria um caminho em forma de circulo, onde depois de iniciada seguiria seu percurso esférico, voltando obrigatoriamente ao ponto inicial, ou seja, alcançaria seu ponto de partida. Isto está expresso na afirmatiava bíblica de Salmão: "lança o teu pão sobre as águas que depois de muitos dias o acharás (Eclesiastes 11:1). Tal idéia está baseada no princípio da cooperação. Os elementos da sociedade tornam-se realizados e completos pela via da cooperação, ou seja, o compartilhar é o que satisfaz e dignifica o homem, neste contexto a família foi concebida e a sociedade se mantém e se organiza. O princípio da cooperação é o principal “drive” para promoção do bem estar e o que efetivamente torna uma pessoa feliz. De tal sorte, a máxima do cristianismo é: melhor coisa é dar do que receber.

A outra teoria é diametralmente oposta. Nela a felicidade ou bem estar é alcançado via competição. Em tal modelo, a cooperação é exercida às avessas, pois os elementos ficam juntos para facilitar o desenvolvimento de um só. Neste caso, a concorrência é o elemento chave para progredir e, consequentemente alcançar o bem estar. Este princípio está como que embasando o comércio e a política, é também o princípio da teoria da evolução biológica. É muito sutil a diferença entre o sistema anterior e este sistema, mas, são opostos; aqui o bem estar de um homem é mantido pelos esforços de muitos, embora pareça que há uma dinâmica de ajuda, como no caso do comércio, onde, por exemplo, uma grande empresa gera um tipo de ambiente no qual outras empresas também se desenvolvem, embora num ambiente de predação. As empresas menores ficam na dependência obrigatória da maior, ainda que pareça conviverem num ambiente de cooperação. Na verdade, todos estão espoliando a todos, visando o bem estar individual.

O primeiro sistema é o que a Bíblia define como vida. No evangelho de Mateus, no capítulo 15, Jesus é interpelado por um jovem rico que lhe pergunta sobre a posse da vida eterna. Jesus recomenda que distribua o que tem com os necessitados e terá a vida. O segundo sistema está demonstrado no capítulo 15 do evangelho de João quando Jesus adverte sobre a avareza, contando a parábola do homem que construiu grandes celeiros para armazenar sua produção, dizendo para si, “Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?  Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.

As duas árvores representam dois grandes sistemas morais conflitantes e, cabe aos filhos de Deus saber distinguir a ambos. Há grande sutileza no sistema que leva à morte, considerando que à árvore que representa o antagonismo à vida deu-se-lhe o nome de ciência do bem e do mal, significando uma mescla que pode enganar e matar. O que parece bom não necessariamente é bom e, nestas circunstâncias, deve-se conhecer cabalmente o sistema da vida para se ter clareza moral e escolhas adequadas.


Apesar da proibição à árvore da vida, Deus fez todos os esforços para que pudéssemos acessá-la. Isto foi possível através de Jesus Cristo, o modelo do homem que viveu em harmonia com o sistema da vida. Ao copiá-lo estaremos fazendo o caminho de volta à árvore da vida. A propósito, deixo-vos uma indagação: se as árvores que estavam no centro do Jardim no Éden eram sistemas de informações, o que seriam as demais árvores todas agradáveis e boas para comida, e mais, o que seria em realidade o jardim? Seria um jardim no sentido estrito ou uma biblioteca?